sábado, 24 de abril de 2010

Psiquiatria hospitalar

Além das respostas que me foram solicitadas recentemente (ver post "Algumas respostas"), pensei que seria oportuno apresentar propostas concretas de como lidar com o impasse que se apresenta no que diz respeito à prática psiquiátrica em hospitais - número de leitos insuficientes, más condições de trabalho e desmantelamento das estruturas.

É parte inerente da psiquiatria a assistência em nível hospitalar, seja em unidade psiquiátrica em hospital geral, em hospital especializado ou em interconsulta. Muito difícil encontrar um colega que não tenha, em algum momento de sua formação e prática clínica, trabalhado neste nível de intervenção.

Infelizmente, em detrimento da assistência integral e de boa qualidade aos pacientes com transtornos mentais, enfrentamos o fechamento indiscriminado de leitos em hospitais psiquiátricos, sem que tenha havido investimento nos serviços substitutivos em hospital geral e no desenvolvimento de hospitais especializados de referência.

Algumas providências a serem implementadas ou incrementadas, idealmente por uma classe unida e solidária:

1. Valer-se do aumento da publicidade em torno dos casos de transtornos relacionados ao uso do crack e de suas conseqüências clínicas para salientar a importância das unidades psiquiátricas em hospital geral e dos hospitais especializados, locais de escolha para o tratamento de desintoxicação;

2. Fiscalizar os hospitais psiquiátricos e as unidades de psiquiatria em hospital geral, regularmente e de forma sistemática, para garantir padrão de qualidade das instalações e do atendimento.

3. Lutar pela extinção dos CAPS III que, como diz José Gurgel, Presidente da Sociedade Cearense de Psiquiatria (SOCEP): "sem plantonista vira manicômio e, se ele estiver presente, torna-se um arremedo de hospital, sem a devida infra-estrutura".

4. Valorizar o papel do psiquiatra não só no tratamento de transtornos mentais graves, que necessitam hospitalização, mas também como interconsultor, prevenindo e resolvendo complicações psiquiátricas de pacientes com outras doenças.

Hetem

terça-feira, 20 de abril de 2010

Representatividade e Legitimidade

Após a divulgação dos componentes da nossa chapa - "ABP de Todos os Psiquiatras: Democracia e Trabalho" - recebemos muitas mensagens de apoio e incentivo, refletindo a sua representatividade e aceitação.

Houve também quem indagasse a legitimidade da eleição a partir da constituição da chapa.

É para se pensar: afinal de contas, a ABP tem ou não legitimidade? Como dizer que não depois de mais de 40 anos de existência bem sucedida, com tantas realizações e conquistas? Discutir a sua estrutura político-administrativa e o sistema eleitoral não significa dizer que não sejam legítimos ou democráticos. Além disso, não é a composição de uma ou outra chapa que garante isso!

Sua organização e todo o processo não seriam legítimos e representativos se o posicionamento dos delegados não concordasse com o pensamento dos associados que os elegeram, ou se a diretoria de uma federada não estivesse bem sintonizada com a vontade dos associados a ela vinculados.

A ABP é democrática! Difícil negar. Propostas que aperfeiçoem o funcionamento da Associação, entretanto, serão sempre bem-vindas e implementadas desde que aprovadas pela nossa instância máxima de representação, a Assembléia de Delegados.

Por enquanto, de acordo com as regras vigentes, as eleições são como têm sido. Somente com uma reforma de estatuto o sistema pode ser alterado (Ver post "Eleições diretas?"). Lamentavelmente, ninguém sugeriu a inclusão deste assunto na pauta das últimas Assembléias de Delegados.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Por uma Psiquiatria “Democrática e de Todos os Psiquiatras”

Ao lado, na apresentação do blog, consta o link para nosso currículo resumido. Por tudo o que já fizemos e pela experiência acumulada, consideramo-nos apto para representá-los na Diretoria Executiva em nossa entidade máxima de classe. Durante longos anos de dedicação à prática e ao ensino da psiquiatria, adquirimos conhecimentos e experiência para tal representação. É sobre nossas idéias e convicções que gostaria de conversar com todos.

Não é só a Psiquiatria que está passando por uma “crise de identidade”, mas a maior parte das atividades da humanidade. A globalização e a velocidade da divulgação do conhecimento, a quantidade de informações que nos abordam, o questionamento de dogmas e hierarquias, nossa inquietação, nossas exigências, nos colocam frente a uma nova dimensão do tempo. A velocidade tornou-se aliada e inimiga; aliada pela rapidez das informações e alterações, com o objetivo do bem estar e inimiga por não suportar a paciência da elaboração. Na Psiquiatria, isto é particularmente percebido na exigência do atendimento de demanda, com a elaboração de diagnósticos e prescrições num piscar de olhos, sendo que a Psiquiatria exige tempo e o diagnóstico é muito mais que um “check list” fenomenológico. Não se preocupar com isso resulta no risco de uma prática médica de nível discutível: tornar-nos-íamos “psiquiatras prescritores”!

Mas nossas inquietações vão muito além. Preocupa-nos nosso papel na sociedade como um todo, não só a nível governamental na participação de políticas publicas em Saúde Mental, mas também a um nível mais amplo do que entendemos por sociedade. Acreditamos que fomos e nos permitimos ser alijados do processo de elaboração das políticas públicas de saúde. Durante um bom tempo nos distanciamos do poder decisório, o que felizmente estamos tentando reverter. Porém hoje, o foco do atendimento está voltado para os pacientes portadores de “quadros graves e incapacitantes” (tornou-se quase sacrilégio utilizarmos o termo psicose) nos CAPS e outras siglas, mas e a grande maioria dos que necessitam de atendimento, os que apresentam transtornos mentais mais prevalentes? Para onde vão as pessoas que tem crises vitais e acidentais, pessoas submetidas a estresses e a traumas, que apresentam transtornos de ansiedade, de humor e de personalidade? Em outras palavras, onde estão os ambulatórios?

A criação de unidades específicas para o atendimento dos pacientes com transtornos mentais provoca tanta discriminação quanto a que era cometida pelo atendimento centrado em hospitais psiquiátricos. Hoje é nos CAPS que “eles” se tratam! Porque não podem ser atendidos em Postos de Saúde? Esta mais do que na hora de se entender que doença mental é coisas séria e seu tratamento deve ser realizado como nas outras áreas médicas – baseado em evidências e atualizado constantemente. Ninguém é mais capaz disto que um Médico Psiquiatra!

Outra questão nos preocupa ainda mais é a de prevenção em Saúde Mental. Acredito que todos nós, desde nossa formação médica, aprendemos que em medicina as ações que dão melhores resultados são as preventivas e não as paleativas ou terapêuticas. Deveríamos insistir mais em políticas públicas efetivas de prevenção junto à infância e adolescência. Não podemos fechar os olhos para as crianças de rua expostas a violência e ao abuso físico e sexual; nem para o crescente uso de drogas pelos adolescentes ou para a iniciação sexual irresponsável, para as DSTs e também para a gravidez precoce. Pretendemos fazer com que a ABP participe da avaliação dos programas existentes, ver o que efetivamente produz resultados, denunciar o desperdício e a repetição inócua, sugerir e formular novos programas com efetividade comprovada.

Foi com essas intenções que aceitamos o convite para integrar a chapa “APB de Todos os Psiquiatras: Democracia e Trabalho”. Temos muito a fazer e acredito que possa dar nossa contribuição fazendo parte da Diretoria da ABP, juntamente com meus colegas de outras regiões do país, em um esforço concentrado para abordar os problemas que citamos.


Fernando Grilo Gomes
gomes.nho@terra.com.br

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Algumas respostas

O colega Florivaldo Zacharias, de Sorocaba, solicitou resposta objetiva para três perguntas sobre assunto que lhe interessa, formuladas por outro colega, este de Goiânia, Marcelo Caixeta (Ver comentários do post “ABP de Todos os Psiquiatras: Democracia e Trabalho”).

1) O que acha do Movimento da Luta Anti Manicomial, de seu modo de agir em relação à classe médica, em especial os Psiquiatras?
É um movimento político-ideológico, de natureza antipsiquiátrica, cujas ações se fundamentam em argumentação ultrapassada e sem base científica.

2) Qual a sua opinião sobre a assim chamada “Reforma Psiquiátrica”, e sobre a Política de Saúde Mental do Ministério da Saúde?
Ambas se superpõem visto que a Coordenação da Saúde Mental do Ministério da Saúde é a mesma há quase 20 anos e a pessoa que ocupa o cargo é simpatizante da Reforma.
O modo como foi implantada no Brasil não melhorou a assistência em saúde mental por ter privilegiado um único dispositivo (CAPS) como solução para todos os males, no qual o psiquiatra seria apenas um figurante da equipe, quando dela fizesse parte.
A OMS preconiza o que consta na Lei 10.216/2001: o atendimento deve ser realizado em rede de serviços balanceada (ambulatórios, residências terapêuticas, serviços de emergência, leitos psiquiátricos em hospital geral e em hospitais especializados), que deveria ter sido criada concomitantemente com a desativação de leitos psiquiátricos e não foi.
A luta pela boa assistência em rede não permite defesa de hegemonia de ferramenta alguma , CAPS ou hospital especializado, erro observado ao longo dos últimos anos, originando dicotomia que interessa a poucos.
Em minha opinião, respondendo diretamente à pergunta, a "Reforma Psiquiátrica" no Brasil é um exemplo de movimento ideológico caduco, falido, que não deu os resultados esperados em detrimento da saúde de milhares de pacientes com transtornos mentais, mas persiste porque patrocinado pelo governo.

3) Qual a sua opinião sobre a necessidade dos Hospitais Psiquiátricos especializados dentro do SUS?
Eles são parte indispensável de uma rede completa de assistência em saúde mental. Seriam equivalentes aos hospitais terciários, dando retaguarda para os demais serviços no atendimento de casos mais graves e complicados. Se a rede fosse bem planejada, existiriam em número reduzido e seriam centros de referência. Também acredito que pudessem abranger complexo de serviços, como no IPq-USP.


A cada semana nossa chapa apresentará proposições objetivas e concretas para enfrentamento e condução de problemas nas nossas várias áreas de atuação nos seus diversos níveis de complexidade, já um desenvolvimento do que consta na Proposta de Trabalho - ABP 2010-2013 Ver post de 22/02/2010).

domingo, 4 de abril de 2010

ABP de Todos os Psiquiatras: Democracia e Trabalho

Sinto-me honrado em apresentar os colegas que fazem parte da chapa "ABP de Todos os Psiquiatras: Democracia e Trabalho", seguramente bem conhecidos de todos por sua retidão, dedicação à especialidade e à Associação, em diversos campos de atuação.

Presidente: Luiz Alberto Hetem (SP)
Vice-presidente: Talvane de Moraes (RJ)
Primeiro Secretário: Fernando Grilo Gomes (RS)
Segundo Secretário: Eugênio de Moura Campos (CE)
Primeiro Tesoureiro: Fábio Lopes Rocha (MG)
Segundo Tesoureiro: Benedito Paulo Bezerra (PA)


Este grupo foi construído cuidadosamente, mantendo o balanço necessário entre afinidades pessoais, respeitabilidade e representatividade nos respectivos estados e regiões, indispensáveis quando se pretende implementar proposta de trabalho tão diversificada e ampla quanto a nossa. Destaco que nenhum deles fez parte da Diretoria Executiva da ABP anteriormente. Há renovação e inovação.

Os Secretários Regionais, que deverão ter papel de destaque na nossa gestão, serão escolhidos dentre os nomes sugeridos pelas federadas de cada região. Estou ciente do rodízio informal que existe nas regiões sul, sudeste e centro-oeste, e pretendo respeitá-lo.

Bem sei que os nomes destes colegas dispensam apresentações. Todos têm dado contribuição significativa para a psiquiatria nacional e estão desejosos de fazer mais; conhecem as responsabilidades inerentes aos cargos que pretendem ocupar e sabem que elas são apenas parte do trabalho de um diretor da ABP.

Gostaria de ressaltar algumas características de cada um deles, que considero preciosas. Talvane de Moraes é eminente Psiquiatra Forense, Advogado, Professor de Ética na UFRJ e um dos fundadores da ABP. Fernando Gomes é professor do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRGS, psicanalista e psiquiatra clínico, tendo extensa experiência na coordenação de residência médica e de cursos de extensão. Eugênio de Moura Campos é Professor da Faculdade de Medicina da UFC, foi presidente da Comissão Estadual de Residência Médica e faz parte de outras instituições médicas (CRM e Cooperativa dos Psiquiatras do Ceará). Fábio Lopes Rocha é Presidente da Associação Acadêmica de Minas Gerais e Coordenador da Clínica Psiquiátrica e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde do IPSEMG, onde mantém um dos mais duradouros cursos de atualização em psiquiatria. Benedito Paulo Bezerra, responsável pela efetivação da primeira Residência Médica em Psiquiatria da região Norte, dentre outros grandes feitos, e é o primeiro colega da região norte a fazer parte de uma chapa que concorre à Diretoria da ABP.

Como escrevi anteriormente, considero-me capacitado para postular a Presidência da ABP, ainda mais ladeado e respaldado por colegas tão capazes, dedicados e comprometidos com a psiquiatria de qualidade e a formação de psiquiatras.

Juntos, esperamos conseguir mobilizar o maior número possível de psiquiatras em torno de uma proposta de trabalho que visa garantir o crescimento sustentável da ABP, o aprimoramento da prática psiquiátrica e a melhoria da assistência ao paciente com transtornos mentais bem como aumentar a atuação da ABP como entidade da sociedade civil que representa nossa especialidade médica. Convidamos todos os colegas a participar desta mobilização, formando um verdadeiro movimento democrático.

Visite e freqüente esse blog! Faça comentários e sugestões para uma ABP de Todos os Psiquiatras: Democracia e Trabalho.