quarta-feira, 14 de abril de 2010

Por uma Psiquiatria “Democrática e de Todos os Psiquiatras”

Ao lado, na apresentação do blog, consta o link para nosso currículo resumido. Por tudo o que já fizemos e pela experiência acumulada, consideramo-nos apto para representá-los na Diretoria Executiva em nossa entidade máxima de classe. Durante longos anos de dedicação à prática e ao ensino da psiquiatria, adquirimos conhecimentos e experiência para tal representação. É sobre nossas idéias e convicções que gostaria de conversar com todos.

Não é só a Psiquiatria que está passando por uma “crise de identidade”, mas a maior parte das atividades da humanidade. A globalização e a velocidade da divulgação do conhecimento, a quantidade de informações que nos abordam, o questionamento de dogmas e hierarquias, nossa inquietação, nossas exigências, nos colocam frente a uma nova dimensão do tempo. A velocidade tornou-se aliada e inimiga; aliada pela rapidez das informações e alterações, com o objetivo do bem estar e inimiga por não suportar a paciência da elaboração. Na Psiquiatria, isto é particularmente percebido na exigência do atendimento de demanda, com a elaboração de diagnósticos e prescrições num piscar de olhos, sendo que a Psiquiatria exige tempo e o diagnóstico é muito mais que um “check list” fenomenológico. Não se preocupar com isso resulta no risco de uma prática médica de nível discutível: tornar-nos-íamos “psiquiatras prescritores”!

Mas nossas inquietações vão muito além. Preocupa-nos nosso papel na sociedade como um todo, não só a nível governamental na participação de políticas publicas em Saúde Mental, mas também a um nível mais amplo do que entendemos por sociedade. Acreditamos que fomos e nos permitimos ser alijados do processo de elaboração das políticas públicas de saúde. Durante um bom tempo nos distanciamos do poder decisório, o que felizmente estamos tentando reverter. Porém hoje, o foco do atendimento está voltado para os pacientes portadores de “quadros graves e incapacitantes” (tornou-se quase sacrilégio utilizarmos o termo psicose) nos CAPS e outras siglas, mas e a grande maioria dos que necessitam de atendimento, os que apresentam transtornos mentais mais prevalentes? Para onde vão as pessoas que tem crises vitais e acidentais, pessoas submetidas a estresses e a traumas, que apresentam transtornos de ansiedade, de humor e de personalidade? Em outras palavras, onde estão os ambulatórios?

A criação de unidades específicas para o atendimento dos pacientes com transtornos mentais provoca tanta discriminação quanto a que era cometida pelo atendimento centrado em hospitais psiquiátricos. Hoje é nos CAPS que “eles” se tratam! Porque não podem ser atendidos em Postos de Saúde? Esta mais do que na hora de se entender que doença mental é coisas séria e seu tratamento deve ser realizado como nas outras áreas médicas – baseado em evidências e atualizado constantemente. Ninguém é mais capaz disto que um Médico Psiquiatra!

Outra questão nos preocupa ainda mais é a de prevenção em Saúde Mental. Acredito que todos nós, desde nossa formação médica, aprendemos que em medicina as ações que dão melhores resultados são as preventivas e não as paleativas ou terapêuticas. Deveríamos insistir mais em políticas públicas efetivas de prevenção junto à infância e adolescência. Não podemos fechar os olhos para as crianças de rua expostas a violência e ao abuso físico e sexual; nem para o crescente uso de drogas pelos adolescentes ou para a iniciação sexual irresponsável, para as DSTs e também para a gravidez precoce. Pretendemos fazer com que a ABP participe da avaliação dos programas existentes, ver o que efetivamente produz resultados, denunciar o desperdício e a repetição inócua, sugerir e formular novos programas com efetividade comprovada.

Foi com essas intenções que aceitamos o convite para integrar a chapa “APB de Todos os Psiquiatras: Democracia e Trabalho”. Temos muito a fazer e acredito que possa dar nossa contribuição fazendo parte da Diretoria da ABP, juntamente com meus colegas de outras regiões do país, em um esforço concentrado para abordar os problemas que citamos.


Fernando Grilo Gomes
gomes.nho@terra.com.br

2 comentários:

  1. Parabéns pela candidatura Fernando, parabéns, também, pela iniciativa de escrever suas idéias e aspirações como candidato à diretoria executiva da ABP. È muito bom saber o que todos vocês que se canditam a nos representar pensam!

    Vinicius Guapo

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  2. Prezado Fernando,

    Parabenizo você pelo texto e fica notório a sua vontade de investir na ABP. Conheço pessoalmente todos os nomes que fazem parte da composição da chapa “APB de Todos os Psiquiatras: Democracia e Trabalho”. Percebo que todos apresentam interesse institucional e isto é muito importante. Tenho muito receio de que desejos individuais venham prevalecer e que a ABP seja utilizada neste processo. Nossa instituição é respeitada e percebida nacionalmente. Então, amedronta-me que ela possa ser buscada para aspirações pessoais. Por fim, expresso satisfação com os nomes de todos vocês

    abs e boa sorte nesta empreitada.

    Régis Eric Maia Barros
    Brasília/DF

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